quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Refinado, está.

Tentando me livrar da angústia de não me pesar as saudades,

me rendo à cama e procuro nela o seu cheiro.

(O cheiro que me trazia nós quando você estava ausente.)

(A Maria trocou os lençóis.)

Não sinto a sua falta, sinto apenas, uma falta.

E compreendo as causas do esperado sofrimento,

assim como suas roupas,

não estarem presentes no quarto.

Sem elas,

sem seus planos,

me sinto leve.

...lembro o quanto tentei lhe explicar.

O quanto eu queria que ao falar,

através das palavras,

se esvaísse todo o peso embolado no meu peito,
fazendo com que alguns sentimentos parassem de me aborrecer.
Como se uma corda estivesse enfiada pela goela e devagarzinho fosse puxada pelo vão da boca, até que eu pudesse respirar novamente,
coberta pelo alívio.

E talvez assim, te farias perceber.

E talvez assim, nós faríamos mudar.

Não adiantou.

Eu pensei tanto em nós, você dizia,

e procurava no cenário,

onde eu estava incluída,

algum sentindo de entendimento.

Eu te olhava, balançando a cabeça de um lado para o outro,

demonstrando o seu engano,

enquanto as lágrimas, no meu rosto,

procuravam o melhor caminho para descer,

como numa corrida.

Você trouxe os seus sonhos

e eu ajudei a segurá-los.

Fez deles

o nosso presente e futuro.

E no primeiro momento,

eu quis, eu os levei adiante,

eu apenas me inclui satisfeita com todo o encanto de nova vida que me rodeava.

Mas então,

com tanta vidência do nosso futuro seu,

o presente se cansou,

eu cansei.

Nós quebramos.

Nós quebramos, e não foi por não termos pensando em nós.

Quebramos por termos nos esquecido que somos, antes de nós,

você

e

eu.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ela abriu os olhos e por alguns segundos sentiu um alívio.
Até que despertou.
Enfraqueceu.
Pelo espelho quebrado do seu quarto, se olhou.
Seu reflexo a fez chorar.
Era ela, sim, só ela, só.
Seu rosto não escondia, ainda estava inchado da noite anterior.
Fechou os olhos querendo mudar, sumir.
Fechou os olhos querendo não desabar. Desabou.
Ela podia fingir para qualquer um, talvez para todo o mundo,
mas alí,
era ela
contra ela mesma.
Doía perceber que não tinha força para parar aquela dor,
não tinha força o suficiente para lutar contra a sua vontade.
Perdeu.
Com a cabeça abaixada, agora, sentia o peso.
Seus olhos, com certa hesitação,
voltaram-se mais uma vez para seu inimigo,
que a fitou quase a insultando por ser tão fraco.
Perdeu, mais uma vez.
Mas então, alguém bateu na porta.
Ela secou as lágrimas,
se escondeu
e voltou a sorrir para fora.